Câncer do Colo Uterino

Câncer do Colo Uterino

1 – O que é o colo uterino?

O colo uterino é a parte inferior do útero que se comunica com a vagina. É através do seu canal que temos a comunicação da parte interna do útero (cavidade endometrial) com o meio externo (vagina). É também através do seu canal que os espermatozóides ascendem durante o processo de fecundação.

Portanto o colo uterino não é um órgão em si e sim uma parte do útero. Seu estudo é feito de maneira separada devido a variedade de doenças benignas e malignas especificas do colo do útero.

Videolaparoscopia e Mioma e Câncer do Colo Uterino

É muito importante salientar que o câncer de colo de útero é totalmente diferente do câncer de endométrio, esse último também conhecido por câncer de corpo uterino. As condutas de prevenção, diagnostico e rastreio são absolutamente diferentes!

 

2 – O que é o câncer de colo uterino?

O câncer do colo uterino é a doença maligna que afeta especificamente o colo uterino, relacionada a infecção do vírus HPV.

Câncer do Colo Uterino
Câncer de colo uterino, visto no exame especular.

O Câncer de colo uterino é uma lesão de crescimento lento e assintomático, sendo totalmente prevenível com o uso de rastreio adequado.

3 – Fatores de risco

O principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de colo uterino é a infecção pelo vírus HPV, estimando-se que 99% dos cânceres de colo uterino tem sua origem através da infecção desse vírus.

Câncer do Colo Uterino

O vírus é transmitido apenas pela via sexual e infelizmente o uso do preservativo comum não é capaz de impedir totalmente sua transmissão.

Atualmente possuímos vacinas eficientes na proteção contra o HPV. Porém as vacinas são contra subtipos específicos e não cobrem a totalidade das variedades possíveis de HPV apresentadas.

 

4 – Sinais e Sintomas

O Câncer de Colo Uterino é uma doença silenciosa e indolor e por isso seu rastreio é tão importante. No geral, as pacientes só iniciarão a sentir dor e outros sintomas quando estiverem em estágios mais avançados onde a cirurgia não é mais possível e as chances de cura são bem baixas.

Mioma e Cisto Ovariano e Câncer do Colo Uterino

O sangramento costuma ser o sinal mais precoce e comum, devendo sempre ser investigados sangramentos não menstruais em todas pacientes, especialmente sangramentos relacionados a atividade sexual.

 

5 – Qual a função e importância do preventivo?

O preventivo é fundamental na prevenção do colo uterino, devendo ser coletado anualmente entre os 21-25 anos e até os 65 anos para a população geral. Populações diferentes de mulheres podem ter sua coleta com periodicidade diferenciada e isso é importante de ser avaliado pelo ginecologista que a acompanha.

Laparotomia e Câncer do Colo Uterino

O preventivo permite que façamos o diagnóstico do câncer em seus estágios mais iniciais, quando na maioria das vezes tratamento locais e pouco invasivos são suficientes e permitem a preservação do colo uterino.

 

6 – Quais as lesões mais comuns que encontramos no preventivo? O que fazemos com elas?

Vamos enumerar aqui as lesões mais comuns que aparecem em um preventivo e seu significado:

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ASCUS – A alteração mais comum, presente em até 60% dos exames alterados. Do inglês significa Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance (ASCUS), em traducao para o Portugues: “Células escamosas atípicas de significado indeterminado”.

Para mulheres com ASCUS e mais de 30 anos recomenda-se apenas repetir o preventivo em 6 meses. Para mulheres com ASCUS e menos de 30 anos recomenda-se a manutenção da coleta de preventivo anual somente. Em casos de resultados positivos, recomenda-se nova coleta em 6 meses.

LSIL – A alteração denominada LSIL é o segundo resultado alterado mais frequente depois do ASCUS. Do Ingles Low Squamous Intraepitelial Lesion (LSIL), em tradução para o Português: Lesão Intraepitelial de Baixo grau. A lesão tem a capacidade de se transformar em câncer, mas a mesma é muito baixa sendo estimada em 2 casos de transformação para cada 1.000 casos de LSIL.

Para mulheres com LSIL a conduta inicial é a repetição do exame de preventivo em 6 meses. Caso o resultado se repita, está indicado uma colposcopia. Caso o novo resultado seja negativo, continuamos apenas com o preventivo de 6/6 meses.

HSIL – A lesão HSIL se apresenta em menos de 10% dos laudos de preentivo alterados, mas merece especial atenção devido ao risco de câncer de colo de útero elevado. Do Inglês High Squamous Intra-epitelial Lesion (HSIL), em tradução para o português: “Lesão Intraepitelial Escamosa de Alto Grau.”

Para mulheres com HSIL a conduta indicada é a colposcopia com biópsia que se confirmada indica o tratamento imediato dessa lesão devido ao risco de câncer.

 

7 – Quais lesões devemos sempre tratar?

As lesões HSIL devem ser sempre tratadas após sua confirmação através da colposcopia com biópsia. Possuem intrinsicamente um risco razoável de transformação maligna e não devem ser acompanhadas em tratamento conservador.

 

8 – Qual a diferença para Câncer Invasor e o Carcinoma in Situ?

O Câncer invasor é o câncer propriamente dito e deverá ter suas condutas de acordo com isso.

Câncer do Colo Uterino
Lesão HSIL, ou carcinoma In Situ, durante colposcopia.

O carcinoma In Situ é sinônimo de HSIL e deve ter suas condutas semelhantes as do HSIL. O termo carcinoma, e as diferentes denominações para a lesão causam muita confusão e ansiedade nas pacientes! Isso decorre do fato de termos várias classificações distintas falando a mesma coisa.

Então vamos guardar:

Preventivo Categoria IV (Classificação de Papanicolau – 1941), Carcinoma In Situ (Classificação OMS – 1952), NIC III (Classificação de Richart – 1967) e HSIL (Classificação Citológica Brasileira – 2006) são exatamente a mesma coisa em diferentes classificações e não significam câncer.

 

9 – Como manejamos o câncer invasor? Quais tipos de cirurgia?

O Cancer invasor vai ter seu tratamento definido de acordo com seu tamanho, invasão de outros órgãos e presença de metástases a distância.

Em casos muito iniciais, procedimentos estadiadores como a conização uterina podem ser suficientes para o tratamento completo.

Videolaparoscopia e Câncer do Colo Uterino

Em casos intermediários ainda podemos poupar o útero em pacientes que desejam gestar, mas na maioria dos casos a melhor conduta será uma histerectomia ampliada com retirada de ovários.

Em casos mais avançados, muitas vezes a cirurgia não possui o melhor resultado sendo indicado a radioterapia e a quimioterapia como primeiro tratamento.

 

10 – Exames de estadiamento?

O estadiamento é uma série de procedimentos adicionais que fazemos após a confirmação por biópsia no câncer de endométrio.

Quando disponíveis, é normalmente solicitado uma ressonância de abdome e pelve para avaliar a invasão da lesão no útero assim como possíveis sítios de metástases a distância.

Câncer do Colo Uterino

Um outro exame solicitado é a tomografia de tórax que é superior na avaliação do parênquima pulmonar, outro sítio preferencial de metástases a distancia.

O diagnóstico de metástases a distância é o principal fator prognóstico para o câncer de Colo de útero e podemos alterar as condutas clínicas e cirúrgicas após essa avaliação

 

11 – Linfadenectomia?  Linfonodo sentinela?

A linfadenectomia consiste na retirada dos gânglios e linfáticos da pelve e/ou próximos da artéria aorta.

Esses gânglios linfáticos pertencem ao sistema vascular linfático que é adicional ao nosso sistema arterial e venoso. Sabidamente esses gânglios são locais preferenciais de metástases e sua retirada é feita para essa pesquisa e estadiamento ou mesmo para tratamento quando gânglios já estão acometidos.

Câncer do Colo Uterino
O sistema linfático é um sistema paralelo ao sistema venoso e arterial e muito importante no estadiamento do câncer de endométrios. Os linfonodos são também popularmente conhecidos como “ínguas.”

Esse é um procedimento de alta complexidade e não é isento de riscos, especialmente por acontecer muito próximo a vasos de grande calibre. Além disso, temos complicações típicas desse procedimento como o Linfedema. Por esse motivo os pacientes devem ser bem selecionados para essa decisão que deve ser tomada em conjunto!

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Uma opção mais recente e menos invasiva é o linfonodo sentinela. Nessa técnica ao invés de esvaziarmos toda a pelve focamos em retirar apenas gânglios principais que seriam sentinelas da doença e são então investigados de maneira acurada.. Sua meta é dar o mesmo estadiamento da linfadenectomia, mas de uma maneira menos invasiva.

Todos esses procedimentos podem ser feitos por videolaparoscopia e robótica, sendo essas vias minimamente invasivas e dando melhor recuperação do paciente no pós-operatório.

 

12 – Quimioterapia e Radioterapia

São tratamentos no geral complementares a cirurgia para o câncer de Colo Uterino, sendo fundamentais em alguns casos para termos a melhora nas chances de cura,

Videolaparoscopia  e Câncer do Colo Uterino

Essas terapias não serão obrigatoriamente aplicadas a todos os casos

 

FONTES:

1 – Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, 2 edição, 201

2 – Berek e Novak, Ginecologic Oncology, 7 ed, 2021

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Dr. Vinicius Araújo

Autor deste artigo | Cirurgião Geral | Ginecologista e Obstetra